- Author, Daniela Fernandes
- Role, De Paris para a BBC Brasil
A polícia francesa falhou em prender três suspeitos de atividades ligadas ao “jihadismo” na Síria por ter aguardado no aeroporto errado o desembarque dos três indivíduos, considerados perigosos.
Os policiais aguardaram a chegada dos suspeitos no aeroporto de Orly, nos arredores de Paris, mas os três homens desembarcaram tranquilamente em Marselha, no sul da França, sem nenhum controle de passaportes, e circularam livremente pela cidade na terça-feira.
Foram os próprios supostos militantes islamistas que se renderam, nesta quarta-feira, às autoridades policiais nos arredores de Montpellier, próximo a Marselha.
“Nenhum policial veio nos buscar no aeroporto. Nós ficamos surpresos”, disse Imad Djebali, um dos suspeitos, por telefone à imprensa francesa, por intermédio de seu advogado.
O “erro gigantesco”, como está sendo chamado pela mídia da França, que também utiliza a expressão “trapalhada”, provocou polêmica no país.
Ele ocorre no momento em que o Parlamento francês discute, nesta quarta-feira, a intervenção militar da França contra o grupo que se autodenomina “Estado Islâmico” e poucos dias após a adoção do reforço das leis antiterroristas no país.
Tranquilidade
Os supostos “jihadistas” haviam sido detidos na Turquia há algumas semanas, na região da fronteira com a Síria. Na terça-feira, eles foram enviados à França pelo governo turco, que havia informado as autoridades da França sobre o caso.
Segundo Pierre Le Bonjour, um dos advogados dos suspeitos, eles decidiram se entregar à polícia em razão da “enorme pressão” e com o objetivo fornecer explicações às autoridades francesas sobre a presença deles na Síria.
Dois dos suspeitos têm ligação direta com Mohamed Merah, islamista radical franco-argelino que atacou uma escola judaica em Toulouse, em 2012, e também matou militares. Merah morreu em um cerco policial que durou 32 horas.
Um dos suspeitos é o cunhado de Merah, Abdelouahed Baghdali, marido de Souad Merah (a irmã de Mohamed também esteve na Síria, segundo autoridades francesas). O outro é um amigo de infância de Mohamed Merah.
Desmentido demorado
Como se não bastasse o erro da polícia francesa, uma fonte do Ministério do Interior havia confirmado à agência France Presse a prisão dos três suspeitos no aeroporto de Orly, nos arredores de Paris, que havia sido inicialmente divulgada pelo canal de TV i-Télé.
Mas ainda no mesmo dia, os advogados dos suspeitos informaram à imprensa que os homens estavam livres em Marselha. As TVs mostraram o áudio da ligação telefônica de um deles ao seu advogado contando que não havia nenhum policial no momento do desembarque.
O Ministério do Interior, no entanto, só desmentiu a prisão dos supostos jihadistas na terça-feira à noite, por volta das 21h30 (horário local, 16h30 em Brasília).
Críticos afirmam que o governo francês “se apressou” para dar destaque na mídia a uma suposta operação policial “bem-sucedida” na luta contra o terrorismo.
De acordo com o Ministério do Interior, os suspeitos deveriam ter sido expulsos da Turquia em um voo Istambul-Paris.
“O piloto desse avião se recusou a embarcar esses três passageiros no voo inicialmente previsto. Os serviços turcos decidiram enviá-los à França em um voo para Marselha”, afirmou o ministério francês em um comunicado.
Segundo o governo da França, as autoridades turcas só informaram os serviços franceses tarde demais, depois que os suspeitos já haviam desembarcado na França.
O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, declarou nesta quarta-feira a realização de duas investigações, pelos serviços de inspeções policiais e administrativas, para apurar as falhas que impediram a prisão dos suspeitos.
As conclusões das investigações, segundo o ministro, serão encaminhadas ao Parlamento francês. Cazeneuve também irá em breve à Turquia discutir sobre a falha na cooperação policial entre os dois países.
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