- Author, Matthew Wall
- Role, BBC News
Com pouco mais de uma semana para o referendo que decidirá o futuro da Escócia, banqueiros, investidores e economistas alertam para o impacto econômico de uma eventual ruptura do Reino Unido.
No dia 18 de setembro, os escoceses irão às urnas para responder com “sim” ou “não” se querem que o país se separe da Grã-Bretanha.
Alguns especialistas argumentam que, embora a cisão possa trazer consequências negativas no primeiro momento, uma Escócia independente seria financeiramente viável a longo prazo.
Confira abaixo a opinião de alguns economistas sobre o assunto.
Russ Koesterich, chefe de investimentos estratégicos do fundo BlackRock
Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, Koesterich, chefe do departamento de investimentos estratégicos do maior fundo do mundo, afirmou que a independência pode frear a retomada da economia do Reino Unido.
“Todo mundo está focado na geopolítica, por causa do que está acontecendo na Ucrânia e no Oriente Médio…mas isso (a independência da Escócia) ainda não tinha entrado no radar dos investidores, especialmente dos americanos porque ninguém achou que o ‘sim’ teria chances de ganhar”.
“Mas caso a Escócia se torne independente, então investidores teriam de aceitar um período prolongado de incertezas sobre os ativos britânicos, desde o valor da moeda às ações”.
Paul Krugman, economista
Em sua coluna no jornal New York Times, Krugman, um dos economistas mais renomados do mundo, mandou uma mensagem de alerta para a Escócia.
“Tenham medo, muito medo. Os riscos de se tornar independente são imensos. As pessoas podem até achar que a Escócia pode se transformar em um novo Canadá, mas é bem provável que acabe como uma Espanha sem luz do sol”, afirmou.
Sobre a possibilidade de a Escócia manter a libra como moeda, Krugman afirmou: “A combinação da independência política com uma moeda compartilhada é a receita do desastre”.
O economista americano, vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2008, classificou como “incompreensível” a reivindicação pela autonomia da Escócia.
Oliver Harvey, estrategista de mercado de câmbio do Deutsche Bank
Em linha com Krugman, Harvey escreveu em um comunicado do banco a investidores: “Escócia: tenha medo, muito medo”.
“As implicações se o ‘sim’ ganhar serão imensas…”, disse ele.
“Do lado do câmbio, a independência poderia, na pior das hipóteses, levar a uma crise desestabilizadora de todo o sistema bancário britânico e, na melhor das hipóteses, deixar o resto do Reino Unido com uma união monetária instável na qual o Banco da Inglaterra será forçado a continuar a prover liquidez aos bancos da Escócia enquanto Westminster tentará alcançar um acordo monetário e fiscal com o novo governo soberano escocês.
“Um voto pelo sim tiraria dos trilhos a recuperação da economia do Reino Unido. A Escócia representa o segundo maior parceiro comercial do Reino Unido após a União Europeia e planos de investimentos de muitas empresas devem ser adiados até que as questões sobre câmbio, regulação e tributos sejam minimamente esclarecidas”.
Ben Chu, editor de economia do jornal britânico The Independent
Um estado escocês é “perfeitamente viável”, argumenta Chu. “Algumas das profecias mais bárbaras sobre o fracasso [da independência] não são convincentes”.
“O dinheiro proveniente do petróleo no Mar do Norte escocês acabaria em um determinado momento, mas o país teria uma população de elevado nível educacional. O crescimento da produtividade e a prosperidade da Escócia no futuro dependeriam, portanto, das fundações do capital humano”.
No curto prazo, no entanto, Chu admite que: “Os investimentos das empresas, que, na última década, se encontram, lamentavelmente, a níveis baixos, podem permanecer estáticos em meio às incertezas de um evento voto pelo ‘sim’. Isso não ajudaria nem a Escócia nem o Reino Unido a se recuperar da maior crise desde a década de 30”.
Na opinião de Chu, muito dependerá da decisão da Escócia de manter a libra como moeda, aceitando, assim, um certo grau de controle de Westminster, o que, para muitos escoceses pró-independência, seria “intragável”.
Credit Suisse
Os economistas do banco suíço alertaram que a Escócia pode cair em uma “recessão profunda” caso se torne independente do Reino Unido. “A re-domiciliação do setor financeiro e dos empregos no funcionalismo público, assim como a disputa legal sobre o petróleo do Mar do Norte, poderiam acelerar qualquer turbulência”, informou um comunicado divulgado pelo banco.
“Estimamos que, na medida em que a produção de petróleo no Mar do Norte diminuir, a economia não-atrelada a esse setor precisaria de uma desvalorização de 10% a 20% para resgatar competitividade. Isso exigiria uma redução de 5% a 10% nos salários, impulsionada por um forte aumento do desemprego.
Goldman Sachs
O banco de investimentos acredita que os efeitos a curto prazo de um voto pelo sim no referendo da Escócia poderia provocar “consequências severas” para as economias dos dois países.
“Numa eventual vitória do ‘sim’, as consequência imediatas para a economia da Escócia, e para o Reino Unido mais amplamente, poderiam ser fortemente negativas”, afirmou um comunicado do banco na semana passada.
Longas negociações sobre a divisão da dívida nacional do Reino Unido, a moeda e a integração da Escócia à União Europeia levariam a “um período prolongado de incerteza”, disse o banco. “Isso poderia trazer consequências econômicas negativas para a Escócia e para o Reino Unido.”
“Mesmo que a união monetária se mantenha no caso de uma vitória do ‘sim’, a ameaça de um eventual rompimento incentivaria investidores a vender ativos na Escócia enquanto correntistas ficariam mais suscetíveis a retirar depósitos dos bancos escoceses”, acrescentou a nota.
Mas a longo prazo, o Goldman Sachs acredita que “há pouca razão para uma Escócia independente não prosperar: não há nenhuma evidência que sugira que países menores são mais ricos ou mais pobres”.
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