No dia 18 de setembro, os escoceses responderão a uma pergunta crucial para sua história: o país deve se tornar independente?
Uma pesquisa de opinião divulgada no dia 7 de setembro mostrou o “sim” na frente pela primeira vez desde o início do debate.
Essa tendência teve impacto imediato, causando nervosismo no mercado – derrubando a cotação da libra frente ao dólar e das ações de grandes empresas escocesas – e grande apreensão na Grã-Bretanha para possíveis outras consequências negativas de uma eventual separação.
Mas o que está por trás desse desejo por separação? Quais são os principais temas do debate no país? A BBC Brasil responde a algumas perguntas-chave para entender o plebiscito. Confira:
Por que muitos escoceses querem a independência?
O Partido Nacional Escocês, que lidera a campanha pela independência da nação, ganhou com assombrosa maioria as eleições parlamentares de 2011, e colocou em andamento o processo do plebiscito.
O governo escocês, liderado por Alex Salmond, diz não ver propósito na união entre Inglaterra, Escócia e País de Gales e que uma Escócia independente, com sua abundância em petróleo, poderia se tornar um dos países mais ricos do mundo.
Salmond diz que é hora de a Escócia “controlar seu próprio destino”.
O governo britânico, encabeçado pelo primeiro-ministro David Cameron, defende a unidade do Reino Unido como uma das uniões políticas mais bem-sucedidas do mundo.
Quais são os principais temas do debate?
Nos últimos meses, dois grandes temas despontaram na discussão sobre o plebiscito: o controle do petróleo e a moeda.
As reservas de petróleo e gás natural do Mar do Norte, especificamente o imposto que se aplica à porção que corresponde à Escócia por sua exploração, são cruciais para entender a posição do governo escocês a favor da independência.
Salmond diz que, com um décimo dos lucros do petróleo – cerca de US$ 1,6 bilhão anuais -, seria possível criar um fundo semelhante ao que existe na Noruega e que, dentro de uma geração, o novo país poderia ser uma reserva soberana de pelo menos US$ 40 bilhões.
Por outro lado, os favoráveis à manutenção da união lembram que as reservas petroleiras escocesas em algum momento se esgotarão.
Eles afirmam, além disso, que a exploração do petróleo no Mar do Norte obteve até agora sucesso por causa dos esforços conjuntos com outras partes do Reino Unido.
Esse apoio seria ainda mais importante neste momento em que as reservas estão aos poucos acabando, já que o petróleo que sobra é mais difícil de extrair.
O governo escocês diz que quer manter a libra esterlina como moeda corrente na Escócia, mesmo se o território se separar do resto do Reino Unido.
As autoridades dizem que isso beneficiaria a todos, mas os três principais partidos políticos do Reino Unido – Conservador, Trabalhista e Liberal-Democrata – já adiantaram que são contra isso.
O Departamento do Tesouro britânico publicou uma análise na qual elenca razões pelas quais as uniões monetárias – como as que propõem os independentistas – são cheias de problemas.
Os independentistas poderiam mudar de ideia e adotar uma moeda própria – o que seria extremamente oneroso, segundo economistas. Uma terceira opção seria adotar o euro, mas para isso a Escócia teria que se adequar às regras impostas por Bruxelas, o que poderia demorar.
O povo quer a independência?
Durante muito tempo, as sondagens indicavam que a maioria da população não queria a independência.
Mas a pesquisa publicada pelo jornal britânico The Sunday Times no dia 7 de setembro surpreendeu ao mostrar os independentistas na frente (51% contra 49% para o “não”, excluindo os indecisos).
O especialista em pesquisas de opinião John Curtice, professor de política da Universidade Strathclyde de Glasgow, diz que nos últimos meses parecia que a disputa estava estagnada, porque todas as enquetes previam cerca de 57% para o “não” e 43% para o “sim”.
No entanto, Curtice diz que agora a disputa de fato parece cada vez mais acirrada.
Quem pode votar?
Quem tem mais de 16 anos e vive na Escócia tem direito de votar, caso esteja registrado no país.
Os votantes devem ser cidadãos britânicos, da União Europeia ou da Comunidade Britânica que lá tenham vivam.
Isso significa que os 800 mil escoceses que vivem no resto do Reino Unido não têm direito ao voto.
Por outro lado, mais de 400 mil pessoas do resto do Reino Unido que vivem na Escócia podem votar.
O que acontecerá depois do plebiscito?
Se o “sim” ganhar, é provável que, um dia depois da votação, o governo escocês realize uma grande festa. Em seguida, começará o processo de negociação com o resto do Reino Unido.
O chefe do Poder Executivo escocês, Alex Salmond, quer declarar o “Dia da Independência” em março de 2016, realizando as primeiras eleições para um Parlamento independente escocês.
Mas antes disso é preciso chegar a um acordo com o resto do Reino Unido sobre temas como a parte da dívida pública que a Escócia deverá assumir.
No entanto, se o “não” ganhar, espera-se que aconteçam negociações em torno de uma proposta para dar mais poderes ao atual Parlamento escocês.
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