O surto de ebola tende a evoluir para uma crise política que pode acabar com anos de esforços para estabilizar o oeste da África, alertou nesta quarta-feira um centro de pesquisas europeu.
“Os países mais afetados pela epidemia da doença agora enfrentam caos desenfreado e, potencialmente, um colapso”, informou o International Crisis Group (ICG), organização sediada em Bruxelas, por meio de um comunicado.
O maior surto de ebola da história já causou até agora 2.811 mortes na Guiné, na Libéria e em Serra Leoa.
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Nesta quarta-feira, uma equipe de agentes humanitários na Guiné foi atacada.
A Federação Internacional da Cruz Vermelha afirmou que está coletando corpos supostamente infectados com a doença no oeste da Guiné.
Um agente da Cruz Vermelha está se recuperando no hospital após ser ferido no pescoço, informou a organização.
Na semana passada, uma equipe com oito trabalhadores humanitários foi morta no sudeste do país por moradores que suspeitam das recentes medidas de combate à doença.
A polícia prendeu 27 suspeitos pelos assassinatos, afirmou o ministro da Justiça da Guiné, Cheick Sacko, à agência de notícias AFP.
Na terça-feira (23), a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que as infecções de ebola podem triplicar para 20 mil em novembro se os esforços para reduzir o surto não aumentarem.
No entanto, Francis Dove Edwin, integrante da força-tarefa presidencial de Serra Leoa responsável por coordenar o combate ao ebola, afirmou que houve progressos para frear a epidemia.
Em entrevista ao programa da BBC Focus on Africa, Dove afirmou que os pacientes estão agora sendo isolados e mantidos em quarentena.
O combate à doença vem se tornando cada vez mais difícil devido às guerras civis na Libéria e em Serra Leoa e aos golpes militares da Guiné.
“O colapso social misturado à epidemia criaria um desastre talvez impossível de ser mitigado”, acrescentou a nota do ICG.
A comunidade internacional precisa fornecer mais pessoal e recursos “não apenas para uma resposta médica imediata, mas também para os problemas de longo prazo de fortalecimento da governança e reconstrução dos sistemas de saúde”, afirmou o comunicado.
Segundo o ICG, a crise do ebola revelou a falta de confiança dos cidadãos nos governos em “sociedades já frágeis”.
Nos três países mais atingidos, “os conflitos civis alimentados por antagonismos locais e regionais podem ressurgir”, acrescentou.
Críticas
Edwin, no entanto, criticou a avaliação do ICG, alegando que o ebola não causaria instabilidade política em Serra Leoa.
Um encontro foi realizado nesta quarta-feira à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York para avaliar os próximos passos do combate à epidemia.
O ICG recomendou ainda que os governos da África Ocidental estabeleçam como prioridade a reabertura das fronteiras com segurança reforçada como forma de evitar o aumento do preço dos alimentos e possível escassez.
“Apesar da retórica que aponta o contrário, governos da África Ocidental vêm tentando gerir essas crises unilateralmente, ignorando – como demonstrado mais uma vez com a rápida propagação do ebola – que suas populações são profundamente ligadas e interdependentes”, afirmou ICG.
Enquanto países como os Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Cuba vêm construindo unidades de saúde para combater o ebola e enviando mais pessoal à África Ocidental, a organização recomendou maior atenção a Guiné-Bissau e a Gâmbia, países próximos ao epicentro já que ambos têm sistemas de saúde inadequados.
Estimativas recentes apontam que 70% dos infectados com ebola na África Ocidental morreram, uma taxa superior à divulgada anteriormente.
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