Os escoceses tiveram a oportunidade histórica de decidir em plebiscito se queriam a sua independência do Reino Unido e rejeitaram a opção – 55% dos eleitores votaram contra a separação.
A decisão veio após meses de uma campanha acirrada. A campanha do “Sim” (pela independência) foi liderada pelo Partido Nacionalista Escocês. Apesar de predominante na política local, a proposta do partido foi derrotada pela campanha do “Não”.
Mas quais foram os fatores que acabaram influenciando o voto pelo “Não”? A BBC ouviu especialistas e aponta para 5 fatores:
1. O “Não” sempre foi o favorito
No começo da campanha, o “Não” já liderava. Quando o acordo de Edimburgo – que abriu caminho para realização do plebiscito – foi assinado, no dia 15 de outubro de 2012, pesquisas de opinião indicavam que um terço dos 4,2 milhões de eleitores escoceses queriam a independência.
Uma série de pesquisas nos próximos 18 meses sempre deram vitória ao “Não”.
Até junho deste ano, foram 65 pesquisas – e 64 indicavam uma vitória do “Não”.
“O ‘Não’ sempre foi favorito, por isso a pesquisa YouGov/Sunday Times publicada há dez dias, indicando vitória do “Sim”, criou tanta comoção”, disse o especialista em pesquisas de opinião, John Curtice.
Mas logo em seguida, novas pesquisas já indicavam uma vitória do “Não” novamente, e isso se sustentou até o dia da votação.
2. Os escoceses se sentem britânicos
Muitos acreditam que houve um renascimento no sentimento de “ser britânico” na Escócia – talvez provocado justamente pelo plebiscito.
Algumas pesquisas de opinião perguntam aos escoceses se sua identidade nacional é “britânica” ou “escocesa”. A resposta majoritária é “escocesa” – mas esse índice caiu de 75% para 65% entre 2011 e 2014. A resposta “britânica” cresceu de 15% a 23% no mesmo período.
“No fim das contas, a Escócia se sente moderadamente britânica”, diz Curtice.
3. O fator risco
A campanha pelo “Não” foi atacada pelos partidários do “Sim” por ser negativa demais. Alguns chegaram a falar em “Campanha do Medo”.
No entanto, o “Não” – cujo nome oficial de campanha era “Melhor Juntos” – foi bem-sucedido em “demover as pessoas da perspectiva de assumir um risco que não seria necessário”, nas palavras de Curtice. Dois dias antes do plebiscito, 49% das pessoas viam a independência como um fator de risco.
Em abril, o líder do partido nacionalista escocês e primeiro-ministro do Parlamento local, Alex Salmond, disse que a campanha do “Não” era “a mais baixo astral, negativa, deprimente e entediante” dos últimos tempos. Em contraste, ele classificava sua campanha pelo “Sim” como “positiva, empolgante e emocionante”.
A campanha do “Melhor Juntos” sempre negou as acusações, e disse defender as conquistas da Escócia dentro do Reino Unido.
O premiê britânico, David Cameron, que fez campanha pelo “Não”, alertou aos escoceses sobre os custos de um “divórcio doloroso”.
4. A disparada recente do “Sim” causou uma reação do “Não”
Uma pesquisa do YouGov/Sunday Times a apenas dez dias do pleito mostrou pela primeira vez uma vitória do “Sim”. Pela primeira vez, havia perspectiva clara de independência da Escócia.
A resposta do “Não” foi imediata. Líderes do governo e da oposição britânicas cancelaram seus compromissos e viajaram à Escócia. Até mesmo a bandeira escocesa foi içada em Downing Street, o escritório do premiê britânico em Londres.
O ex-premiê britânico Gordon Brown, que é escocês e ainda é bastante popular na região, divulgou um calendário para dar mais poderes ao Parlamento escocês, no caso de a Escócia permanecer no Reino Unido.
Os líderes dos três maiores partidos assinaram uma promessa conhecida como “fórmula Barnett” para dar mais poderes – e dinheiro – à Escócia.
5. Mais ricos ou mais pobres?
Essa foi uma das principais questões para os escoceses ao longo de toda a campanha.
A economia foi o principal palco de batalhas, com discussões sobre moeda, petróleo e investimentos. A vitória do “Não” sugere que os escoceses não estão convencidos de que a independência trará mais prosperidade.
A libra esterlina esteve no centro do debate. Os escoceses pró-independência prometeram negociar a manutenção da moeda, argumentando que isso estaria no interesse do Reino Unido e da Escócia. Mas isso foi rejeitado pelo governo em Londres desde o princípio.
Outro assunto debatido ferrenhamente foi a divisão do petróleo do Mar do Norte.
O governo escocês divulgou um estudo que argumentava que cada escocês estaria cerca de R$ 3 mil mais ricos em 15 anos. No entanto, esses dados foram contestados pelos britânicos.
Em última instância, não há resposta clara para essas perguntas, já que as condições concretas de uma Escócia independente só seriam negociadas caso o “Sim” tivesse vencido o plebiscito.
Mas a vitória do “Não” indica que os escoceses não se convenceram dos argumentos econômicos dados pela campanha separatista.
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